quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Semeador


Parecia meio-dia de um dia de semana. O sol estava forte, tão forte que sua claridade embaçava os olhos, provocando uma leve tontura, tornando turvas as coisas e verde o céu. Um verde-claro suave, que parecia guardar segredos que nem o tempo jamais descobrira.
Um misto de estilos compunha aquela paisagem, onde a poluição industrial da cidade ao fundo era amenizada pela imagem do meio rural. Uma árvore com galhos cortados e folhas secas a espera de um sopro do vento para desgarrar-se e flutuar até aterrissar ao chão dava idéia de que o outono se aproximava, apesar do calor quase insuportável.
Próximo à arvore, um homem.Não era possível ver seu rosto, mas seus movimentos continuamente repetitivos e cada vez mais lentos, intercalados por pausas necessitadamente executadas, transmitiam cansaço.Ele encontrava-se numa plantação, semelhante à de trigo, e em sua mão um pequeno saco meio cheio para uns e , para outros, meio vazio, contendo sementes.Sementes que aos poucos iam separando-se umas das outras impulsionadas por uma mão calejada do trabalho .
Apesar do cansaço, aquele homem cuidadosamente ajoelhava-se sob a terra e cavava pequenos buracos onde colocava algumas sementes e, logo após, tapava-os, ajeitando a terra para dar a idéia de que nunca havia sido retirada dali. Ele o fazia sem pressa mas, curiosamente, o resultado do seu trabalho parecia ser duplicado, o que, imagino, trazia-lhe muita alegria.Mas aos poucos, pássaros voavam até onde estava, impedindo-lhe de trabalhar, já que cada semente colocada sob a terra era levada por eles.Cheguei a pensar que ele perderia a paciência,mas fui surpreendido pela sua atitude.Lentamente ele pegou algumas sementes e abriu a mão, expondo-as, como se quisesse alimentar os pássaros.
Achei aquela cena realmente linda e curiosa. Tentei aproximar-me daquele homem, mas a cada passo dado, era como se eu afastasse-me mais dele. Queria entender o porquê de isso acontecer, mas ouvi meu pai me chamar e, enfim, acordei, ainda sem conseguir entender o motivo do meu sonho.
Percebi o cansaço de meu pai, estava com algumas marcas no rosto, marcas deixadas, provavelmente, pelo sol. Mas mesmo fadigado, carregava um enorme sorriso no rosto. Aproximou-se de mim lentamente, estendeu as mãos, mostrando-me algumas sementes um pouco rompidas, explicou-me que aquilo havia sido feito por alguns pássaros que ali estavam e que daquela forma seria mais fácil que o trigo pudesse brotar. Voltou ao trabalho enquanto eu ouvia seu riso afastar-se gradativamente, e desde esse dia me pergunto se a historia, que eu conhecia, do semeador fora realmente um mero sonho.



Hevelin Pérola

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